12 de dezembro de 2010

Pablo Neruda: A meu partido


Me deste a fraternidade para o que não conheço.
Me acrescentaste a força de todos os que vivem.
Me tornaste a dar a pátria como em um nascimento.
Me deste a liberdade que não tem o solitário.
Me ensinaste a acender a bondade, como o fogo.
Me deste a retidão que necessita a árvore.
Me ensinaste a ver a unidade e a diferença dos
homens.
Me mostraste como a dor de um ser morreu na
vitória de todos.
Me ensinaste a dormir nas camas duras de meus
irmãos.
Me fizeste construir sobre a realidade como
sobre uma rocha.
Me fizeste adversário do malvado e muro do
frenético.
Me fizeste ver a claridade do mundo e a
possibilidade da alegria.
Me fizeste indestrutível porque contigo não
termino em mim mesmo.



Pablo Neruda
Canto Geral
Tradução de Paulo Mendes Campos
Revista por Maria José de Queiroz
Difel/Difusão Editorial – edição 1979

2 de dezembro de 2010

Caminhando...


De repente, a vida nos leva por caminhos que nos distanciam fisica e geofraficamente de quem amamos. Talvez para compensar essa perda de vivências alegres e divertidas, surgem novas pessoas no caminho, novas alegrias, novas diversões.

As vezes jogamos fora essas oportunidades.

Outras, aproveitamos e nos esbaldamos de felicidade coletiva.

 É,  passo por isso. Quem me conquistou e eu conquistei nessa vida, eu amo, sempre vou amar, mesmo com nossos enjoos de cada um. Vou amar mesmo que o trabalho, o TCC, as disciplinas da universidade, as aulas de uma aspirante à professora, os problemas familiares, a chuva, a distância, o tempo, me impeçam de ver, de abraçar, de dizer: amigo, amiga, eu os amo! E chorar quando estou junto deles e feliz de tanto emocionada que fico simplesmente por tê-los na minha vida.

Mas não posso viver sem amar, sem construir amizades,sem ser feliz. Amo muito mesmo quem apareceu tão repetinamente, de forma estranha, vive bem lá longe de mim, mas é tão meu amigo como se morasse aqui do meu lado.

E o que dizer quando, de lugares geralmente chatos, descubro pessoas legais? E que gostam de mim com minhas multiplas chatices?

Eu as vezes digo. Mas decidi escrever a todos esses grandes amigos, os de longa data, os mais recentes, os de perto e os de longe.

Escrever que sou louca de amor por eles. E que espero que nossa caminhada juntos seja tão longa, e intensa, e divertida e feliz, que, como diz o poema, até o amor irá querer saber como a construimos.

E tudo isso aflorado pelo bilhete que encontrei na minha mesa no trabalho no meio do expediente nesta semana. Fiquei tão boba, tão emocionada, fiz foto, registrei na câmera do celular e no álbum da vida que temos na "caixola" e no coração.

Como disse no tuiter #Chorei

Amizade, amor, carinho e respeito são bens que prezo muito.

Depois do bilhete, teve mais 59 minutos de papo com um grande amigo pelo telefone, bate papo pelo e-mail com outro...vai aflorando, aflorando, aflorando, e eu, parecendo mãe vendo o bebe após o parto, fico uma bobona com essas belas e inestimáveis companhias que tenho nesta vida.

Então, lembrei deste poema que enviei a um amigo. Lembrei porque hoje me sinto um pouco assim, abandonando as velhas roupas, mas cuidando bem das que eu gosto mais.

E assim vou caminhando, fazendo aminha travessia na companhia de quem me é importante...

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas ...
Que já têm a forma do nosso corpo ...
E esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos
mesmos lugares ...

É o tempo da travessia ...
E se não ousarmos fazê-la ...
Teremos ficado ... para sempre ...
À margem de nós mesmos..."

1 de novembro de 2010

500 anos esta noite - Pedro Tierra



De onde vem essa mulher
que bate à nossa porta 500 anos depois?
Reconheço esse rosto estampado
em pano e bandeiras e lhes digo:
vem da madrugada que acendemos
no coração da noite.
De onde vem essa mulher
que bate às portas do país dos patriarcas
em nome dos que estavam famintos
e agora têm pão e trabalho?
Reconheço esse rosto e lhes digo:
vem dos rios subterrâneos da esperança,
que fecundaram o trigo e fermentaram o pão.
De onde vem essa mulher
que apedrejam, mas não se detém,
protegida pelas mãos aflitas dos pobres
que invadiram os espaços de mando?
Reconheço esse rosto e lhes digo:
vem do lado esquerdo do peito.
Por minha boca de clamores e silêncios
ecoe a voz da geração insubmissa
para contar sob sol da praça
aos que nasceram e aos que nascerão
de onde vem essa mulher.
Que rosto tem, que sonhos traz?
Não me falte agora a palavra que retive
ou que iludiu a fúria dos carrascos
durante o tempo sombrio
que nos coube combater.
Filha do espanto e da indignação,
filha da liberdade e da coragem,
recortado o rosto e o riso como centelha:
metal e flor, madeira e memória.
No continente de esporas de prata
e rebenque,
o sonho dissolve a treva espessa,
recolhe os cambaus, a brutalidade, o pelourinho,
afasta a força que sufoca e silencia
séculos de alcova, estupro e tirania
e lança luz sobre o rosto dessa mulher
que bate às portas do nosso coração.

As mãos do metalúrgico,
as mãos da multidão inumerável
moldaram na doçura do barro
e no metal oculto dos sonhos
a vontade e a têmpera
para disputar o país.
Dilma se aparta da luz
que esculpiu seu rosto
ante os olhos da multidão
para disputar o país,
para governar o país.

Brasília, 31 de outubro de 2010.

A busca

15 de maio de 2010

Uma música, um desejo...

Futuros Amantes

Composição: Chico Buarque

Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos

Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você