2 de agosto de 2011

Emoção, política e Nelson Jobim.

Hoje pela manhã, quando sai do trabalho, passei por uma esquina na qual estava um senhor e um menino, este devia ter uns 8 anos de idade, paraciam ser pai e filho. O pai pedia às pessoas que passavam pela rua para lhes comprarem um lanche. Horas depois, enquanto esperava o ônibus, encontrei uma senhora bem idosa, já com dificuldades para andar, pedindo dinheiro para as pessoas. Segundo a própria, "ela estava aperreada porque haviam cortado a sua luz" por isso pedia dinheiro, para pagar a conta.
Nessas horas, dá um nó na garganta.

Já em casa, a tarde, pela primeira fiz meu primo de apenas 7 meses dormir. Enquanto eu o embalava, o acalantava, lembrei-me daquelas pessoas que encontrei no caminho para casa.

O nó na garganta voltou. Essa sensação de que não fizemos nada por esta gente que tanto sofre, mesmo com os avanços consideráveis alcançados com muitas lutas, é de deixar qualquer ser arrasado.

Enquanto recordava dessas pessoas, que nem conhecia até a manhã de hoje, e que continuo não conhecendo nada além daquele olhar de tristeza , lembrei do senhor ministro da defesa do Brasil, Nelson Jobim.
Este cidadão foi o entrevistado do programa Roda Viva, na TV Cultura na noite de ontem. Não o assisti. Estava extremamente cansada depois de um dia todo de aulas ministradas. Mas enquanto exercia o que me cabe de liberdade de expressão em relação aos programas de televisão - mudar de canal - ouvi uma pergunta à ele e sua resposta. A apresentadora perguntou se ele se sentia desprestigiado pelo fato de ter sido muito mais recebido no Palácio do Planalto pelo ex presidente Lula do que o é hoje pela presidenta Dilma.
Jobim respondeu com uma negativa, disse que não se ressente por este fato, para ele política é algo separado das emoções, "aprendeu que na política até as brigas são combinadas", só mistura política e emoção os iniciantes e o tolos, ou algo muitissimo parecido com isso.

Então fiquei pensando como é que posso olhar para um pai e filho (uma criança de menos de 10 anos) que pediam comida e a uma senhora idosa que pedia dinheiro na rua para pagar sua conta de energia e não me emocionar? Como pode, eu que sou militante, filiada a partido politico, atuante, eatudiosa, que compreendo como esse sistema funciona, que sei quais mudanças devem ser feitas, que busco respostas para realizar essas mudanças, e que para isso, uso minha racionalidade, como é que posso não sentir um nó na garganta?
Militei, estudei, compreendi o bastante para saber que há de se mudar a super-estrutura. Há que se construir uma nova ordem. Os programas implantados atualmente pelo governo brasileiro podem acabar com a fome de comida e de existência imediatas, mas a longo prazo, não acabará. Disso eu sei. Sei também que nã gestão pública é necessário a combinação entre racionalidade e emoção.

Mas de que me basta saber dessa engrenagem se dentro do meu peito eu não carrego nenhum sentimento, nenhum respeito por esta gente? De que adianta o conhecimento aprendido e apreendido na acadêmia se eu não consigo transformá-los em ações efetivas que mudem a vida do povo brasileiro? De que adianta?

Como pode uma costureira fazer uma roupa se ela não sabe cortar, alinhavar, costurar? Como pode uma cozinheira preparar uma refeição se ela não conhece ingredientes, não sabe cortar, temperar? Como pode um político, que assume tarefa no poder executico ter suas ações políticas separadas da emoção? Como pode um gestor não conhecer seu povo e aproximar dele e de suas dores, se o seu papel é justamente de o representar?

Na minha humilde visão, pelo meu pouco conhecimento de vida, não acredito nessa divisão entre política e emoção.

Eu não vivi as mesmas dores daquelas pessoas que encontrei nesta manhã, mas senti parte dela. E vendo meu priminho tão pequeno ali no meu colo e o mundo tão grande e tão injusto que ele e tantas outras crianças nasceram, prefiro acreditar no velho Marx que afirmava que não podemos embrutecer e no velho Che, que nos dizia "endurecer, sem perder a ternura jamais".