25 de fevereiro de 2016

Precisamos falar sobre a ansiedade no dia a dia

Sofro de transtorno de ansiedade, diagnosticada há cerca de dois anos. Ainda estou aprendendo a lidar com isso de duas formas: como eu lido com esse transtorno mental e como eu interajo na sociedade e as pessoas interagem comigo. E não e fácil.

Hoje, uma coisa banal aconteceu: no trajeto de casa para o trabalho, de ônibus, quando dei sinal para descer, o motorista parou no meio da rua entre os carros; me recusei a descer ali e dei o sinal para ele parar no ponto; ele fechou a porta e seguiu, me ignorando. Briguei com o motorista, reclamei meu direito e o dever dele, e tive de descer alguns pontos depois, distante do meu local de trabalho.

Algumas pessoas podem falar "isso é normal, sempre acontece comigo, não liga" ou coisas do gênero.

Isso não é normal, pontos de ônibus existem como referências para as pessoas embarcarem e desembarcarem do transporte público.

Mais para alguém que sofro de transtorno de ansiedade, uma coisa que já é um desrespeito embora esteja sendo naturalizada pela dinâmica violenta da vida urbana, esse fato tem consequências dolorosas.

Uma das formas da ansiedade se manifestar em mim é construir padrões na minha vida, metodicamente eu replico esses padrões cotidianamente, como uma forma de aparentar ter controle sobre a minha vida e me sentir segura, não permitir que fatos estranhos me tirem do meu eixo. 

Horários fixos e bem cumpridos, ritual para entrar e sair de casa; ritual para o banho, para dormir, para arrumar o espaço de trabalho; TOC (transtorno obsessivo compulsivo) por objetos alinhados em fila reta; fazer o mesmo caminho e no mesmo horário para sair ou voltar para casa.

Essas coisas não são projetadas de forma consciente. Elas vão acontecendo. E quando me dou conta, estou ali, reproduzindo padrões que me dão uma sensação superficial de controle e segurança aparentes, mas que na verdade, me aprisionam ainda mais no transtorno de ansiedade e me distanciam da liberdade que preciso ter em em relação à essa doença.

Era para ser uma fato corriqueiro do dia a dia, descer em outro ponto de ônibus. 

Mas o ônibus não para onde eu pedi, o motorista não para mesmo eu pedindo. Saiu do controle, saiu da rotina. Sou obrigada a ter de mudar o caminho para o trabalho, a andar por onde não estou acostumada, a não passar no supermercado para comprar o pão para o café da manhã com os colegas de trabalho, a chegar mais tarde e ter de deixar de fazer o que me programei para fazer às 7h30.

Traduzindo isso do plano mental para o biológico, o corpo começa a tremer, o coração acelera, a respiração fica pesada e lenta, os olhos se enchem de lágrimas, a garganta dá um nó, começa uma vontade de dormir e de não falar com ninguém.

Se alguém chegar agora e me vê assim, vai me ter por tola, temperamental, descontrolada, fraca e mais um tanto de adjetivos negativos.

Dentro da minha cabeça tem um mantra "te controla, respeita teu ambiente e colegas de trabalho, respira fundo, não chora, segue em frente", primeiro, para tentar impedir que uma crise de pânico seja desencadeada agora e aqui no ambiente de trabalho no horário de expediente; segundo, porque quando falo que sofro de transtorno de ansiedade e falo dos sintomas, a maioria das pessoas diz que também já se sentiu assim e começa a relatar fatos de um tipo de ansiedade que é natural a todos os animais e que não é uma doença mental, portanto, não produz o mal que o transtorno de ansiedade tem sobre a vida de uma pessoa.

Pela minha saúde mental, tenho de tentar controlar a manifestação de sintomas de um transtorno mental. Paradoxal e verdadeiro. E doloroso.

Esse será mais um dia que serei tida por mal humorada e temperamental.