20 de março de 2015
"Ame e dê vexame"
"Como forma de controle, as sociedades autoritárias
desenvolvem no homem a noção e o medo do ridículo. O medo do
ridículo se confunde com o medo de ser, de amar, de ser livre.
Contra esse veneno, só há um antídoto: o vexame."
FREIRE, Roberto.
11 de março de 2015
Um parto
Quando volto para casa, estou feliz por mais uma atividade cumprida, mais uma tarefa realizada apesar de todos os pesares. Mas, preciso de um ou dois dias para "voltar ao normal", sair de um estado meio anestésico. Nesses dias, tenho sono descomunal, minha capacidade de concentração é baixíssima e a de dispersão vai para as alturas.
Depois que fui diagnóstica com ansiedade, e depois de iniciar a terapia e começar a refletir sobre o que sinto, como sinto e possíveis porque sinto, comecei a refletir sobre esse meu estado pós atividades no trabalho.
E começo a pensar que a ansiedade me faz ter um sofrimento constante. Ao fazer algo, sofro com o antes, com o momento de realizar e com o depois. Não bastasse esse estado permanente de tensão, todos os sentimentos que permeiam o dia a dia, são dilatados, ganham uma intensidade que nem sempre corresponde ao que vivo naquele momento. Tenho a capacidade de sofrer mais por aquilo que minha mente projeta para o futuro do que por aquilo que se dá de fato em um determinado momento na minha vida.
Para mim, cada etapa do trabalho é como um parto mesmo, durante minha atuação nos cursos, praticamente me desloco para a tarefa que tenho que cumprir, minha mente se desliga de qualquer outra coisa. E depois de cumprida a tarefa, fica a reflexão sobre o que foi, o que fiz, porque fiz, e um cansaço, físico e mental, que leva um tempo para ser superado. O antes, o durante e o depois é uma dor, misturada com ansiedade, misturada com angústia, misturada com coragem, misturada com apreensão, misturada com medo, misturada com insegurança e misturada com esperança.
Meu trabalho não é um peso para mim, pelo contrário, de certa forma, eu me salvo nele, me edifico, sinto prazer e esperança no que faço e pelo que faço. Mas a forma como lido com os sentimentos que o meu trabalho desencadeia, a forma como desenvolvo minha percepção sobre a coisas mais simples, isso sim, parece, parece uma metade arrancada de mim, como diz a letra da música.
3 de março de 2015
E de repente, ansiedade!
Mas de repente, em meio a uma das muitas mudanças que vivemos na vida, senti que tinha um mundo em mim e eu não dava conta de viver esse e nesse mundo.
Senti necessidade de procurar ajuda médica, espiritual, de amigos e amigas, pra falar dessa imensidão que eu vivia. Porque a dor física e emocional que eu sentia, me despertou para uma necessidade descontrole sobre o que eu sentia, pensava e fazia.
De repente eu amava, de repente eu vivia um amor, de repente eu passei a olhar para mim, de repente comecei a me enxergar, de repente o amor acabou, de repente, ficou difícil viver as mudanças que eu comecei com ele, sozinha. E não de repente, tudo ou muito do que eu tinha vivido, em quase três décadas de vida, caíram sem para quedas na minha vida, justamente no momento de uma profunda mudança.
Não bastava ter de viver o final de um amor, era preciso enfrentar os fantasmas da vida.
Não foi de repente que me dei conta de que precisava de ajuda médica. Levou um tempo para eu entender que as noites sem dormir, a ausência de fome, a perda de peso, o medo de ficar sozinha, os pensamentos que projetavam negativamente fatos que podiam acontecer, o descontrole emocional e as oscilações repentinas de humor, TOC, crises de choro, não eram sintomas de saudade do amor vivido, apenas.
Não foi de repente, também, que entendi, que isso tudo já estava dentro de mim, e foi despertado, não pelo fim do amor, mas quando eu não soube lidar com uma das muitas mudanças que estamos sujeitos a viver na vida.
Tudo se tornou sofrimento. O antes, durante e o depois, era marcado por um sentimento de ansiedade que me deixava exausta, em permanente estado de alerta.
Mas foi de repente que eu enxerguei o descontrole que me atingia quando algo saia do meu planejamento, e o quanto me fazia mal não conseguir controlar a vida e o que estava ao meu redor.
De repente, eu me perguntei como tinha conseguido sobreviver tanto tempo com isso tudo. E de repente, eu percebi quanta coisa eu perdi, joguei fora, afastei e estava afastando por conta da ansiedade.
CID F-41. De repente, essa sigla começou a fazer parte da minha vida, junto com uma série de novos "de repente eu senti isso, eu vi aquilo, eu percebi aquilo outro...".
De repente, estou em permanente terapia. Embora nada disso tenha sido tão de repente, assim.
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