21 de outubro de 2015

Um diagnóstico, muitas dúvidas, poucas certezas e muitas vontades

Quando fui diagnosticada com ansiedade, a tal nova doença do século e da contemporaneidade, não me dei conta do tamanho do problema em que havia me envolvido.

Mesmo sabendo que havia algo errado com a forma como os sentimentos surgiam em mim e como eu lidava com eles, e mesmo sabendo que naquele caso, acompanhamento médico era uma necessidade, e que se tratava de uma doença mental, achei que tinha o controle daquela situação.

Dois anos após o diagnóstico e início do tratamento, conseguimos, eu e a terapeuta, conseguimos avanços importantes: identificar os sintomas da ansiedade que se manifestavam em mim, identificar padrões de comportamento provocados pela ansiedade, identificar pontos que eu precisava alterar e, principalmente, identificar possíveis causas geradoras da doença.

Tudo isso em um tempo curto de tempo e as vezes, em descobertas quase "iluminadas", de tão claras e precisas que se mostravam.

Essas descobertas deveriam apontar para maior controle da doença e de mim mesma.

Mas após dois anos convivendo com essa realidade, a última sessão de terapia apontou para novos desafios: retornar ao tratamento medicamentoso homeopático e, se não houver melhoras nos sintomas, buscar tratamento psiquiátrico.

O dia de ontem, após a terapia, foi de reflexão e medo, e o medo tem estado tão presente e enraizado em mim, que já tou perdendo o medo do medo. Mas o susto de ter de tratar a ansiedade com psiquiatra e com medicação alopática e mais forte, isso sim, me pegou de jeito.

Um susto no prédio em que moro, numa madrugada no começo do mês, em que a vizinha chegou de uma festa brigando com o namorado e mais parecia um assalto, desencadeou em mim uma crise de pânico que não se afastou mais. Chamei a polícia com medo de ser um assalto e de sofrer as consequências dessa violência. Desse dia em diante, qualquer barulho no prédio, qualquer barulho, desencadeia em mim uma crise de pânico manifestado por tremores no corpo, medo e coração acelerado.

De repente, comecei a sentir medo de voltar para casa. De repente, comecei a ter uma crise de pânico sem estímulos, sentada no sofá em frente à televisão. De repente, comecei a esquecer palavras simples e do cotidiano, com calça, telefone e computador. De repente, comecei a ter lapsos de memória, esquecendo, por segundos, onde estou, para onde vou e do rosto de pessoas conhecidas. De repente, passo a ter medo de andar de avião. De repente, vejo sombras pela fresta da porta do quarto, durante a noite.

De repente, todos os sintomas da ansiedade tomam conta da vida e acendem o sinal vermelho de alerta: a ansiedade começa a ganhar mais espaço nessa disputa.

E não são os sintomas que mais assustam. Assusta, mesmo, é a perda do controle da mente e do corpo, a possibilidade de perder a capacidade de raciocinar logicamente sobre a vida. Assusta a necessidade de ter de buscar o tratamento psiquiátrico e medicação alopática.

É preciso  enfrentar isso tudo, sim, é preciso. Mas o susto que veio com esses novos sintomas ainda não passou. E o telefone do consultório do homeopata, ainda não atende.


20 de março de 2015

"Ame e dê vexame"


"Como forma de controle, as sociedades autoritárias
desenvolvem no homem a noção e o medo do ridículo. O medo do
ridículo se confunde com o medo de ser, de amar, de ser livre.
Contra esse veneno, só há um antídoto: o vexame."

FREIRE, Roberto.

11 de março de 2015

Um parto




Ouvindo a música "`Pedaço de mim", fiquei a pensar no cansaço que sinto após algumas atividades do meu trabalho, quando preciso ficar quase uma semana fora de casa, em outro estado.

Quando volto para casa, estou feliz por mais uma atividade cumprida, mais uma tarefa realizada apesar de todos os pesares. Mas, preciso de um ou dois dias para "voltar ao normal", sair de um estado meio anestésico. Nesses dias, tenho sono descomunal, minha capacidade de concentração é baixíssima e a de dispersão vai para as alturas.

Depois que fui diagnóstica com ansiedade, e depois de iniciar a terapia e começar a refletir sobre o que sinto, como sinto e possíveis porque sinto, comecei a refletir sobre esse meu estado pós atividades no trabalho.

E começo a pensar que a ansiedade me faz ter um sofrimento constante. Ao fazer algo, sofro com o antes, com o momento de realizar e com o depois. Não bastasse esse estado permanente de tensão, todos os sentimentos que permeiam  o dia a dia, são dilatados, ganham uma intensidade que nem sempre corresponde ao que vivo naquele momento. Tenho a capacidade de sofrer mais por aquilo que minha mente projeta para o futuro do que por aquilo que se dá de fato em um determinado momento na minha vida.

Para mim, cada etapa do trabalho é como um parto mesmo, durante minha atuação nos cursos, praticamente me desloco para a tarefa que tenho que cumprir, minha mente se desliga de qualquer outra coisa. E depois de cumprida a tarefa, fica a reflexão sobre o que foi, o que fiz, porque fiz, e um cansaço, físico e mental, que leva um tempo para ser superado. O antes, o durante e o depois é uma dor, misturada com ansiedade, misturada com angústia, misturada com coragem, misturada com apreensão, misturada com medo, misturada com insegurança e misturada com esperança.

Meu trabalho não é um peso para mim, pelo contrário, de certa forma, eu me salvo nele, me edifico, sinto prazer e esperança no que faço e pelo que faço. Mas a forma como lido com os sentimentos que o meu trabalho desencadeia, a forma como desenvolvo minha percepção sobre a coisas mais simples, isso sim, parece, parece uma metade arrancada de mim, como diz a letra da música.


3 de março de 2015

E de repente, ansiedade!




Não sei como, nem quando, e nem porquê.
Mas de repente, em meio a uma das muitas mudanças que vivemos na vida, senti que tinha um mundo em mim e eu não dava conta de viver esse e nesse mundo.
Senti necessidade de procurar ajuda médica, espiritual, de amigos e amigas, pra falar dessa imensidão que eu vivia. Porque a dor física e emocional que eu sentia, me despertou para uma necessidade descontrole sobre o que eu sentia, pensava e fazia.

De repente eu amava, de repente eu vivia um amor, de repente eu passei a olhar para mim, de repente comecei a me enxergar, de repente o amor acabou, de repente, ficou difícil viver as mudanças que eu comecei com ele, sozinha. E não de repente, tudo ou muito do que eu tinha vivido, em quase três décadas de vida, caíram sem para quedas na minha vida, justamente no momento de uma profunda mudança.

Não bastava ter de viver o final de um amor, era preciso enfrentar os fantasmas da vida.
Não foi de repente que me dei conta de que precisava de ajuda médica. Levou um tempo para eu entender que as noites sem dormir, a ausência de fome, a perda de peso, o medo de ficar sozinha, os pensamentos que projetavam negativamente fatos que podiam acontecer, o descontrole emocional e as oscilações repentinas de humor, TOC, crises de choro, não eram sintomas de saudade do amor vivido, apenas. 

Não foi de repente, também, que entendi, que isso tudo já estava dentro de mim, e foi despertado, não pelo fim do amor, mas quando eu não soube lidar com uma das muitas mudanças que estamos sujeitos a viver na vida. 

Tudo se tornou sofrimento. O antes, durante e o depois, era marcado por um sentimento de ansiedade que me deixava exausta, em permanente estado de alerta.

Mas foi de repente que eu enxerguei o descontrole que me atingia quando algo saia do meu planejamento, e o quanto me fazia mal não conseguir controlar a vida e o que estava ao meu redor.

De repente, eu me perguntei como tinha conseguido sobreviver tanto tempo com isso tudo. E de repente, eu percebi quanta coisa eu perdi, joguei fora, afastei e estava afastando por conta da ansiedade.

CID F-41. De repente, essa sigla começou a fazer parte da minha vida, junto com uma série de novos "de repente eu senti isso, eu vi aquilo, eu percebi aquilo outro...".

De repente, estou em permanente terapia. Embora nada disso tenha sido tão de repente, assim.